Bom, dei uma parada sobre os posts mais técnicos, mas estou preparando um sobre alguns estudos que fiz em Scala. Até lá, vou falar de um assunto que ultimamente tem me deixado meio pensativo: redes sociais.
Para os que me conhecem mais a fundo, sabem que eu sou meio “alérgico” a redes sociais. Aderi ao twitter e ao facebook depois que muita gente já estava usando, e não tenho linkedin, nem google buzz ou google+. Só que eu acho que algumas pessoas estão “perdendo o fio” do que é cada rede social. Usei o twitter, sempre, mais como uma forma de me manter atualizado tecnicamente do que para encontrar amigos-afinal, eu não vejo o motivo de ficar trocando mensagens de 140 caracteres com amigos meus (e deixar isso disponibilizado para o mundo). Aliás, cabe aqui uma observação interessante: a língua, o idioma, é absolutamente frágil. Por isso existem tantas formas de dizer algo, de falar ou pronunciar uma palavra, um sentido… por isso o “teste de Turing” ainda não foi vencido, por isso que é tão difícil processar linguagem natural, por isso que existem trocadilhos e poesias-todos, abusando de características da linguagem que podem dar duplo-sentido, dupla-interpretação, etc.
Isso, na linguagem falada. A linguagem escrita é MUITO pior.
Porque, na linguagem escrita, você não tem aspectos simples como o olhar da pessoa, sorrisos, movimento corporal, tom de voz, e às vezes é difícil de dar a entender que uma coisa é sarcasmo quando se está escrevendo (antes, se usava itálico, tipo “Hahaha, claro que eu vou fazer isso!”). E em 140 caracteres, é MUITO mais difícil. Especialmente em português, que é um idioma que notavelmente se escreve demais (“Right click” vs “Clique com o botão esquerdo do mouse” é um exemplo bem notável). Percebo isso no twitter quando eu não gosto de algo e posto lá: pra não ser subentendido, eu preciso escrever mais de 140 caracteres…
Mas voltando ao assunto: redes sociais. Aí, começam a surgir os clones, que são “o facebook do X” ou o “twitter do Y”, ou os clones open-source, ou os clones de empresas que querem mercado “cof Google cof“, enfim. E também tem os usuários que retwittam algo no facebook, ou colocam hashtags no facebook, ou informam que “tão saindo de casa”, “tão almoçando”, ou fazendo check-in nos lugares pelo 4square (ou um de seus clones)… e eu acho que essas pessoas perdem um pouco o fio da meada de uma coisa:
Quando você publica algo no facebook, você está postando algo para CENTENAS de pessoas. Por exemplo, no meu facebook, eu possuo cerca de 150 amigos-e me considero alguém que tem poucos amigos, já que eu só adiciono quem eu conheço, etc… mas usando uma média para baixo, vamos pensar em 200 amigos. Digamos que eu poste algo no meu “mural”-só com isso, duzentas pessoas estão vendo. Se uma dessas pessoas compartilhar, são mais duzentas. Digamos que vocês compartilhem 50 amigos, sua postagem foi para 350 pessoas. Se você postou algo que é uma piada interna, e pode ser mal-interpretado… no caso do 4square, já imaginou que ao fazer “check-in” na sua casa, com dois simples “compartilhar” de seus amigos você está publicando o endereço da sua casa para umas 300 pessoas que você nunca viu na vida? Que se alguém quiser saber se você está em casa, basta acessar seu mural e esperar pelo seu “check-in” em algum lugar muito longe? E que as coisas que publicamos em nossos murais dizem muito a respeito da nossa condição social, etc. Em resumo, um possível ladrão pode:
- Saber seu nome, e de seus parentes (e grau de parentesco)
- Saber quais são seus “gadgets” e computadores em casa
- Saber AONDE é sua casa
- Saber AONDE você ESTÁ
- E tudo isso SEM SAIR DE CASA…
Apenas com um computador, conectado na internet. É absurdo, porém verdadeiro.
Outra coisa: você é um ativista em prol do socialismo, veganismo, budismo, do metal, à favor ou contra determinada lei, enfim, você pode postar algo assim no Facebook. MAS, e isso é um GRANDE MAS, a partir do momento que você posta algo você dá ao direito das pessoas
- Concordarem com você
- Discordarem de você
- Não darem a mínima
E aí, acontecem os não-raros posts falando “puxa, o mundo está passando fome, e ninguém dá a mínima” ou os “essa é minha opinião, se você não concorda guarde pra você” e outros “mimimimimi”s. Só que, o que as pessoas esquecem especialmente no segundo caso, e que se você postou algo pra algumas pessoas que você sabe que podem discordar ou até não gostar, quem deveria ter guardado isso pra si é você, a não ser claro que você esteja disposto a aceitar que as pessoas possam discordar. E nisso pode sim surgir discussões úteis. Como ferramenta de discussão, a internet pode ser até melhor do que pessoalmente, SÓ QUE isso exige uma maturidade que eu, sinceramente, acredito que nós ainda não adquirimos.
Se há algo de bom nisso tudo é que o twitter, o facebook, nos ajudam a desenvolver uma tolerância maior a certas coisas (meio que um “teste de fogo”). Quantas vezes eu já quis deletar um usuário do twitter porque os tweets dele era superficiais (e cegos) em determinados assuntos, mas não o fiz porque outros tweets dele são muito bons? No fim das contas, acabei desenvolvendo uma tolerância maior à opiniões-mesmo que elas sejam incorretas (e mesmo que nenhuma explicação lógica do mundo faça a pessoa mudar de idéia). Isso é algo que os botões de “ignore” tiraram de nós, essa habilidade-no primeiro momento que alguém começou a escrever coisas que fisgam um pouco suas idéias, “ignore” nele…
Por fim, e o mais estranho, quando alguém diz que quer colocar monitoramento na internet, as pessoas gritam em nome da “privacidade”. Qual privacidade, quando deliberadamente informamos tanta coisa na internet pra qualquer um ver, sem distinção nenhuma?
Lembrando que eu sou, sim, muito a favor da privacidade na internet. Porém, me preocupa o fato de que se eu me recuso a deixar explicitado na internet quem eu sou, como eu sou, aonde eu moro, enfim, todas as possíveis informações sobre mim, de repente eu sou a pessoa estranha…