Retrospectiva 2010

Demorei um pouco mais do que eu gostaria para escrever esse post mas, vamos lá: retrospectiva do ano todo. Este será um post bem pessoal, mas como sempre, nem só de código vive uma pessoa: junto, há uma turbulência de sentimentos que acabam influenciando a vida toda e a de quem estiver próximo.

Em 2010, tudo indicou que seria um péssimo ano. E, na maior parte, ele foi realmente muito ruim, mas com todas essas coisas ruins, algo de bom surgiu no meio das frustrações.

Foi um ano de rubys e aprendizados. Logo no começo do ano, perdi um cargo de chefia que significava muito mais do que eu imaginava, e isso me inspirou a escrever artigos e palestras. Me inscrevi no AgileBrazil, aonde fui palestrante e acredito que deu para mostrar muita coisa boa que foi feita em meu trabalho, muito embora esse trabalho não seja reconhecido pelos próprios gestores. Logo depois, participei pela primeira vez do FISL, também como palestrante. Pouco antes, ingressei no Grupo de Usuários de Ruby, o GURU-SP, e para minha surpresa fui reconhecido no FISL, e pouco tempo depois no RubyConfBR (por sinal, um dos melhores eventos que já fui).

Em todos esses eventos, mais do que Ruby, acabei aprendendo outras coisas bem interessantes. Me meti a usar CouchDB em alguns experimentos caseiros, comecei a me aventurar bem mais com JavaScript e até a gostar da linguagem, e aprendi um pouco mais sobre as técnicas de desenvolvimento de sistemas complexos, embora infelizmente eu não tenha tido oportunidade ainda para aplicar os conhecimentos em um sistema realmente complexo. Como certas coisas insistem em não mudar, mesmo estudando muito mais do que eu imaginava, nesse ano, ainda assim não consigo gostar de Java, mas é a vida…
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Métodos privados semelhantes a Java/C++ em Ruby

Fazia um tempo que eu não postava uma das bizarrices em Ruby, então vamos lá: esses dias, no grupo de usuários de Ruby, surgiu uma discussão muito boa sobre métodos privados e alto acoplamento. A idéia é mais ou menos assim: em Java (ou C++), ao definir um método público que chama um método privado, se você reimplementar aquele método privado, os métodos públicos herdados não são afetados. Um exemplo vale mais que mil palavras, então:

#include <stdio.h>

class Example {
    public:
    void imprimir() {
        hello();
    }

    private:
    void hello() {
        printf("Hello, world!\n");
    }
};

class Ex2: public Example {
    private:
    void hello() {
        printf("Hello, from Ex2\n");
    }
};

int main(void) {
    Ex2 e;
    e.imprimir(); //Essa linha imprime "Hello, world!"
}

Já no código Ruby equivalente:

class Example 
  def imprimir()
    hello
  end

  private
  def hello
    puts "Hello, world!"
  end
end

class Ex2 < Example 
  private
  def hello
    puts "Hello, from Ex2"
  end
end

Ex2.new.imprimir #Imprime "Hello, from Ex2"

Ou seja, reimplementar métodos privados numa subclasse pode quebrar métodos da superclasse. Embora eu considere isso uma peculiaridade da linguagem e não como um problema de acoplamento, implementação falha, ou qualquer coisa (e até, mais pra frente, pretendo escrever um post sobre o assunto de diferenças entre linguagens de programação além da sintaxe), a discussão inteira me deu uma idéia: como implementar esse comportamento em Ruby?
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SOLID e SQL

Para os que não conhecem, o princípio SOLID é uma “sigla de siglas”, uma tentativa de formalizar códigos limpos, flexíveis e funcionais principalmente para linguagens orientadas a objeto. Os princípios são Single Responsibility Principle, Open-Closed Principle, Liskov Substitution Principle, Interface Segregation Principle e Dependency Inversion Principle. Sendo bem sucinto:

  • SRP indica que todo objeto deve ter apenas uma responsabilidade. Ou seja, fazer uma classe para atender apenas uma função específica.
  • OCP indica que toda classe deve ser aberta para adição de novas funcionalidades, mas fechada para modificação. Ou seja, quando for preciso adicionar mais funcionalidades, isso deve ser feito apenas adicionando novos métodos, sem precisar alterar os que já existem.
  • LSP indica que deve ser possível substituir um objeto por seus filhos, na herança, sem dar problema. Na prática, significa que um objeto filho altera a forma como o objeto pai funciona, extendendo ou não suas funcionalidades, mas nunca alterando o comportamento geral
  • ISP indica que todo código deve organizado de forma que jamais seja necessário implementar métodos que não são utilizados. A idéia é melhor explicada (com exemplos) neste post.
  • DIP indica uma necessidade de depender de classes abstratas, não de classes concretas. Ou seja, ao invés de, em um código, receber num método uma classe concreta, receber uma classe abstrata e, quando o método for chamado, passar uma classe concreta

Ok, e aonde o SQL entra nisso? Ele não é orientado a objeto, não é “turing-complete”, é apenas uma linguagem de busca num banco de dados, certo? E sim, eu tou falando de SQL, não de PL/SQL ou qualquer coisa semelhante. A explicação é muito simples: Clean Code
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Closures, Functions e Programação Funcional em Javascript

Estes dias, tive que fazer um código que achei que seria muito complicado, e que deveria rodar num browser. A idéia é que, dependendo do que foi digitado em uma determinada caixa de texto, um pedaço de uma página deveria mudar. Até aí, tudo bem, o problema é que o pedaço que deveria mudar deveria agrupar informações de outras caixas de texto, e outras regras confusas. Achei uma solução muito simples e prática, e gostaria de dividí-la. Mas antes, vamos simplificar o escopo:

Imagine que há uma página, no qual há um botão “adicionar”. Ao clicar nele, ele adiciona um “select” (sexo) e uma caixa de texto com observações ou qualquer outra coisa. Podem ser adicionados tantos elementos como se achar necessário. Para cada elemento alterado, deve ser exibido um sumário na tela de baixo (observações), digamos, concatenando o sexo e as observações. A parte difícil é: quando qualquer elemento for mudado, APENAS o sumário relativo àquele conjunto de elementos (sexo e observação) deve ser alterado, e também, quando eu estiver editando as observações (ou o sexo), o sumário deve ficar em negrito. Para simplificar (e rodar em vários browser) usarei a biblioteca Javascript chamada Prototype (não usarei o JQuery porque seria jogar uma bomba numa mosca), e a idéia é escrever apenas o código relativo às edições (porque é isso que pega). Portanto, para quem quiser, basta pegar o gist do Github http://gist.github.com/658668 para ter um esqueleto do programa (basta abrir o .html em qualquer browser).
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Monkey-Patch seguro, em Javascript

Continuando os estudos com Javascript, diversas coisas interessantes, que pareciam acessíveis apenas aos programadores de Ruby, Perl e outras linguagens mais flexíveis podem ser feitas também na linguagem. O problema é que, normalmente, é difícil de usar isso em bibliotecas que já existem, principalmente porque a maioria dos códigos em Javascript ou não seguem boas-práticas ou simplesmente são escritos de forma diferente do que vou apresentar aqui, porém vale pela dica. Um exemplo bem simples, pensando na seguinte API:

objeto = {
  valor: 10,
  incrementar: function(v) { 
    if(!v) v = 1;
    valor += v;
  },
  raizQuadrada: function() {
    Math.sqrt(incrementar(4));
  }
}

Para implementá-la, em Javascript, há várias formas. Simulando o comportamento que eu fiz no post passado, é possível usar o seguinte formato:
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Estudos com Javascript

Recentemente, comprei o livro Javascript – the Good Parts, do Douglas Crockford. A principal motivação, não vou negar, foi o node.js (e o fato que muitas pessoas na net têm falado de Javascript como uma das mais “novas” maravilhas. Mas isso fica pra outro post). O livro, embora tenha uma série de problemas (e o principal é a ausência de exemplos claros, além de dar pouca ênfase ao “Javascript way”, na minha opinião) é muito bom e traz algumas definições no mínimo diferentes sobre Javascript.

Basicamente, o que é Javascript? Javascript é orientado a objeto? Javascript é funcional? Javascript suporta classes, suporta….?

Para começar, Javascript é uma linguagem de programação com sintaxe semelhante a C++, dinâmica, com tipagem absurdamente fraca, pseudo-orientada a objetos, orientada a protótipos e funcional. Wow… um de cada vez.
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ArelOperators e Buscas sem SQL

Continuando o trabalho em cima da biblioteca ArelOperators, há algumas novidades.

Para o pessoal que foi no encontro do Guru-SP, apresentei um pouco do trabalho. A idéia, conforme o post anterior sobre o assunto, é tornar o Arel mais transparente na hora de formar queries no ActiveRecord, aproveitando os recursos de Operator Overloading do Ruby.

A idéia é bem simples, na verdade, mas vem de uma dificuldade que eu acredito que muitos desenvolvedores têm: quando estamos escrevendo um código em qualquer linguagem, seria bom se pudéssemos apenas usar aquela linguagem para resolver nossos problemas. Não é conveniente usar duas, três linguagens no mesmo código-fonte (exceto, talvez, para o pessoal que usa Java, que tem que se entender com XML… ok, parei de zuar Java, juro!), e nem é recomendável de acordo com o fantástico livro “Clean Code”, do Robert Martin.

Então, por que SQL? Com uma linguagem expressiva como Ruby, e uma biblioteca fantástica como o Arel, não há mais motivos pra escrevermos “fragmentos de SQL” ou mesmo ficar fazendo “joins” e buscas estranhas manualmente. E isso trás algumas mudanças na cultura de buscas em banco de dados.
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Ensaio Sobre Tesouras de Plástico sem Ponta

Pode parecer estranho o título deste post, mas na verdade ele não é apenas sobre aquelas tesouras de criança, mas sobre segurança e como ela afeta nossa vida. Mas, para isto, é melhor começar com uma história simples de diferença de cultura:

Na pré-escola, professores e professoras sempre insistiam para usarmos “tesouras sem ponta”, que normalmente significava aquelas tesouras minúsculas com cabo de plástico e que não cortavam nem uma folha de papel direito. Quando você é criança, porém, tudo é divertido (até o fato da tesoura não cortar), e no fim você ou pede emprestada uma tesoura de outra criança, que ainda não perdeu o corte, ou acaba cortando na mão, quando o corte for reto.

Agora, vamos para outra cultura: Japão. Em animes, você normalmente vê crianças e adolescentes com aulas de culinária, prendas domésticas, ou semelhantes. Nestas aulas, os adultos supervisionam, mas são os alunos quem realmente acendem o fogo, usam facas pontudas, etc. A idéia, até onde eu sei, é ensinar desde pequeno como usar uma ferramenta que pode potencialmente ser perigosa, como ensinar a ter cautela.

Imagine, agora, você com trinta anos, um cabeleireiro, estilista, artista plástico, sendo obrigado a usar uma tesoura de plástico sem ponta? Um cozinheiro que precisa de “provadores”, “acendedores de fogão”, porque, ora, no primeiro caso ele pode queimar a língua, no segundo, ele pode explodir o fogão. Ou então, usando o fogão X, porque ele tem um acendedor automático de bocas, e assa um bolo em alguns dias, afinal, com um fogo BEEEM baixo, a chance de queimar o bolo é bem menor… certo? O que isso nos diz? Na minha opinião, tudo se resume a apenas uma palavra:

Confiança.
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Arel e Operator Overload

Finalmente, o Rails 3 foi lançado, e junto com ele vieram diversas funcionalidades legais: maior suporte para frameworks Javascript, mais rápido, mais agnóstico, etc etc… mas na minha opinião, a maior vantagem está no ActiveRecord 3.0

O ActiveRecord ganhou uma dependência chamada Arel, uma biblioteca de álgebra relacional. Muitos blogs já falaram sobre o assunto, então não vou me extender, vou direto ao ponto: Ruby é uma linguagem orientada a objeto, e ela é BOA no que faz. SQL é uma linguagem para fazer buscas, e devo dizer, ela também é BOA no que faz. Ruby entende objetos, SQL entende tabelas, e, bom, misturar os dois deveria ser muito mais transparente do que é. Por exemplo, o código a seguir:

maiores = Pessoa.maiores_de_idade
homens = Pessoa.homens
return maiores + homens

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