A importância do código-fonte

Talvez o nome deste post seja estranho, em um blog tão focado à programação. Porém, vale um pouco de história.

De duas semanas para cá, estou escrevendo um artigo para tentar apresentar no Workshop Brasileiro de Métodos Ágeis. Inclusive, eu recomendo a todos que trabalham a um certo tempo com uma linguagem, tecnologia, etc, que escrevam um artigo sobre o assunto, mesmo que não seja em formato científico, só para organizar as idéias. Ajuda bastante a focalizar seus próximos passos. Porém, esse não é o assunto. O assunto é bem simples, na verdade:

Design de Software.

Tentei traçar as origens da tal “metodologia em cascata”, e não consegui. O artigo mais antigo que eu cheguei foi de Winston Royce, em 1970 (sim, 1970 – é difícil de acreditar que a maioria das metodologias de desenvolvimento de software de hoje se baseiam numa idéia que surgiu a 40 anos atrás), e Royce sequer nomeia a metodologia. Na verdade, ele apresenta o desenho típico de uma metodologia em cascata e comenta: “a implementação acima é arriscada e convida à falhas”. Seria possível que, na informática, alguém em 1970 apresenta o modelo que mais tarde seria chamado de “cascata”, diz para as pessoas não usarem, e as pessoas começam a usá-lo? Bom, sendo informática, eu não duvido de nada (nem de doutores em engenharia de software citando que até uma metodologia em cascata é melhor do que as metodologias ágeis – sim, eu ouvi isso). Enfim…

Mas, voltando ao tópico – a metodologia que Royce propôe enfatiza a documentação. Mais tarde, essa documentação seria unificada pela UML, e uma série de estudiosos iriam “contribuir” para a tal UML, criando mais e mais diagramas… além daquelas coisas obsoletas, tipo fluxograma, “teste de mesa”, etc etc. Aqui, vale a pena citar Jack Reeves, que pergunta em seu artigo (de 1992): “O que é design de software?”. O artigo é extenso, mas transcrevo umas partes aqui:

O objetivo final de qualquer atividade de engenharia é algum tipo de documentação. Quando um trabalho de design foi completado, a documentação é entregue à manufatura. Eles são um grupo completamente diferente, com habilidades completamente diferentes do time do design. Se a documentação realmente representa um design completo, o time da manufatura pode proceder para construir o produto. De fato, eles podem proceder para construir uma grande parte do produto, sem qualquer intervenção dos designers. Depois de revisar o ciclo de desenvolvimento de software, da forma que eu entendo, eu concluo que a única documentação de um software que, na verdade, satisfaz o critério de uma documentação de design é o código-fonte.
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Smalltalk, e a noção de objetos

Em outro artigo meu, citei como uma linguagem como Java pode ser usada para programação procedural, mesmo sendo “orientada a objeto”. Esses dias, brincando um pouco com Smalltalk, acabei achando um e-mail do Alan Kay sobre o que ele considera “programação orientada a objeto”, e o que isso difere do que conhecemos.

Primeiro ponto: na programação orientada a objetos que a maioria de nós conhecemos, a abstração é mais ou menos assim: um objeto é uma “coisa”, e essa coisa possui métodos. Na hora em que você roda o programa, a “classe” é definida, um ou mais objetos são instanciados, e a partir daí você pode chamar os métodos dos objetos.

Em Smalltalk, as coisas são um pouco diferentes
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A saga da busca em bancos de dados

Num mundo perfeito, todos os sistemas de armazenamento se conversariam, a nível do servidor e não do cliente, e jamais precisaríamos manualmente definir por “joins”, ou seja lá qual a forma que seu banco de dados faz.

Claro, o mundo não é perfeito.

Nesse caso, precisamos no mínimo padronizar uma forma de buscar dados. A maioria dos sistemas relacionais entende SQL, embora isso também não seja padronizado. Pior ainda, se for necessário buscar uma informação que está em uma tabela da base de dados X, e uní-la (join) com uma da base de dados Y, temos que fazer a busca manualmente.

Entra, aí, uma idéia.
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Curiosidades sobre Procs em Ruby

Esses dias, estava montando um código para Ruby usando Procs (blocos de código), salvando esses procs em variáveis e depois rodando-os sobre “bindings” diferentes. Talvez tenha ficado um pouco complicado de entender, mas na prática é algo mais ou menos assim:

class UmaClasse
  def self.callback_qualquer
    ...#alguns códigos aqui....
    @@bloco = proc do
      break if condicao_qualquer
      ...#códigos do meu callback
    end
    ...#mais algumas coisas
  end

  def salvar
    instance_eval(&@@bloco)
    puts "Rodei"
  end
end

Ou seja, eu posso criar um bloco definindo um callbackqualquer, e depois rodar esse bloco no contexto da “instância”, não da classe (o código que eu fiz, na verdade, é bem mais complexo). Mas, surpreeendentemente, esse código não funciona – ele lança um LocalJumpError se a condição do Proc for satisfeita. Por quê?

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Lazy Evaluation

Existe um conceito, muito utilizado por programadores de linguagens funcionais e pouco utilizado em outras linguagens, chamado Lazy Evaluation. Para não extender muito a definição, basta dizer que no caso do Lazy Evaluation, um resultado só é computado quando ele é necessário ao programa. Exemplos explicam melhor o conceito, então segue um:

100.times do |iterador| #Equivalente ao "for" de outras linguagens
  n = fatorial(iterador)  #Calcula o fatorial
  if(iterador.even?)       #Se for um número PAR
    print "Resultado da operação: #{n}" #Imprime o resultado do fatorial
  end
end

Lembrando que Ruby não trabalha com Lazy Evaluation, portanto o código acima não seria adequado. Mas, digamos que a linguagem acima suporte Lazy Evaluation: o resultado de n só seria calculado se o iterador for par. Ou seja, embora estejamos sempre definindo que n = fatorial(iterador), o programa não calcula o resultado do fatorial até que precisemos dele – neste caso, até que ele seja impresso na tela. Ou seja, em linguagens como Haskell, que suportam Lazy Evaluation por padrão, o código acima seria perfeitamente válido e não seria ineficiente. Normalmente, quando você usa Lazy Evaluation o código que só rodará depois é chamado de “promisse”, pois ele é uma promessa que o valor será calculado.

Mas porque isso é tão interessante?

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Paradigmas do MongoDB

Esses dias trabalhei firme no meu mapeador para MongoDB, o MongoParadigm. O código dele, como sempre, está disponível no GitHub. Atualmente estou me esforçando para integrar ele com Rails, e depois disso tudo pretendo finalmente implementar o “has :many” e o “belongs_to”. Pensei como seriam essas associações, e percebi que elas era a parte menos importante do MongoDB.

Isso porque eu acho que estou entendendo o que exatamente é uma base de dados orientada a “documentos”, finalmente – trabalhando na UFABC, é fácil de ver esse tipo de coisa: O registro de um aluno é um documento (no caso, de uma pessoa). O histórico do aluno é outro documento – e essa é a parte interessante, o histórico é um documento que pertence a um aluno, e não o contrário. Isso deve ficar bem documentado no MongoDB, porque apesar de não parecer, as bases de dados relacionais levam a gente a pensar de forma não-natural. Por exemplo, quando você vai armazenar um histórico de notas de um aluno em uma base relacional, normalmente você não armazena UM histórico, e sim um monte de registros que estão ligadas a um aluno por uma chave. Agora, é perfeitamente simples de entender porque o MongoDB não implementa trasações – afinal, no caso dele, se fosse necessária uma alteração se está mexendo em UM documento, e não em 20 registros, por exemplo.

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Usando frameworks Java com JRuby

Estes dias, estava vendo uns projetos antigos e lembrei de um framework bem legal para Java chamado ZK. O problema do ZK é que você consegue aproveitar o máximo dele quando você programa usando Servlets, e não usando o modelo ZUL dele. Lembrei de alguns projetos que fiz, de algumas coisas interessantes que ele fazia e também lembrei que eu cheguei a programar com Servlet em Ruby, e aqui vai como eu fiz mais esse trabalho para evitar Java. NOTA: Isso funciona com qualquer framework Java, seja ele ZK ou Echo2 ou qualquer outro, porque na verdade o que você faz é escrever algumas linhas de código de “cola” e depois passa o controle para o JRuby

A primeira coisa que você precisa é do JRuby instalado, e de um compilador Java. Crie seu projeto normalmente, e provavelmente você terá uma classe que será responsável por instanciar a primeira classe (janela, página, seja lá o que for) do seu Servlet. Nesse ponto que a “mágica” acontece. Para simplificar as coisas, que vou criar uma classe (chamada Inicial) que instanciará uma JFrame. Toda a JFrame será definida em JRuby.

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Linguagem de Programação GO

Hoje, algumas pessoas no twitter e até mesmo aqui na UFABC me mandaram um link: http://golang.org/. Parece que é uma linguagem desenvolvida pelo Google, para procedimentos internos, sejam lá quais eles forem.

Resolvi dar uma olhada no site, nos exemplos, para ver o que há de novo. Primeiramente, o típico “Hello World” em Go:

package main
import "fmt"

func main() {
  fmt.Printf("Hello, world\n")
}

Minha primeira impressão foi: meu Deus, reinventaram o Java! Sintaxe C/C++, construções estranhas (fmt.Printf?). Mas fica pior:

func nextInt(b []byte, pos int) (value, nextPos int)
func ReadFull(r Reader, buf []byte) (n int, err os.Error)

Percebem? Uma função chama-se nextInt, a outra ReadFull. Me lembra do PHP e suas funções sem padronização de nomes… e a sintaxe?
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Programação Procedural em Java

Ok, o título parece estranho, mas é algo que me preocupa: Afinal, POR QUE as pessoas confundem tanto desenvolvimento orientado a objeto com procedural? Recentemente eu fiz uma integração do Jasper com Ruby (projeto Jasper on Rails, no meu github) e me vi tendo que usar a API do Jasper. É mais ou menos assim (em JRuby):

  modelo = "#{DIR}/arquivo.jasper"
  dados = File.read("#{DIR}/dados.xml")
  str_reader = java.io.StringReader.new(dados)
  input_source = org.xml.sax.InputSource.new(str_reader)
  documento = JRXmlUtils.parse(input_source)

  params = {
    JRXPathQueryExecuterFactory::PARAMETER_XML_DATA_DOCUMENT => documento
  }
  fill = JasperFillManager.fill_report(modelo, params)
  pdf = JasperExportManager.export_report_to_pdf(fill)
  return String.from_java_bytes(pdf)

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Jasper on Rails

Esses dias comecei a estudar como integrar algum sistema de relatório ao Rails. O problema principal é que nenhum sistema de relatórios possui editor visual (para Layout, essas coisas fazem uma diferença…). Felizmente, existe o Jasper, com o iReport que é um editor visual. O problema é que ele é Read more…